sexta-feira, 1 de abril de 2016

Say no more

Say no more

(Paula Campos)

Era uma vez, uma garota tímida que sobre nada falava, com medo da reação das pessoas.
Na escola, demorou a interagir com os colegas em sala e só teve coragem de fazer alguma pergunta ao professor quando já se encontrava na faculdade.
Apaixonava-se por alguns colegas e o amor era sempre platônico.
Quando deixou de ser, o namoro começou com conversas pela internet.
Tão mais fácil escrever!
E começou a escrever! Não em diários cheios de códigos, porque criatividade nunca foi seu forte também.
Começou a escrever textos e postar na internet, como forma de desabafo. Melhor vomitar palavras de ira sem que as pessoas vejam sua expressão facial; melhor tecer opiniões sem ver caras de discordância.
Relacionamentos dos mais diversos vieram e, por muito tempo, ela se manteve assim. 
Começou a se soltar aos poucos. Mas continuava com tanto respeito a si e aos demais que as opiniões eram sempre muito ponderadas.
Isso é o que ela achava. As pessoas, na verdade, não gostam de opiniões alheias, principalmente quando contrárias.
Voltou a ser muda. Só se ouvia sua voz em risada e opiniões a favor das pessoas com quem, quando corajosa, conversava.  Não que quisesse agradar. Quando a opinião era contrária, ela guardava pra si. Ou escrevia.
Triste, não é? Mas vivendo assim, ela evitava problemas. 
Só que guardava remorsos, engolia raivas e injustiças. Tentava manter a paz no ambiente e foi perdendo a sua própria.
Relacionamentos se perderam. Na cabeça dela, isso se deu porque não conseguia se expressar.
Foi incentivada a falar. “Falar faz um bem danado!”, diziam.
E começou, finalmente, a se soltar de verdade. A falar, brincar, rir, ter opiniões contrárias e, mesmo assim, respeitadas. Finalmente!
Assim, sentiu-se criando laços, relações talvez mais verdadeiras.
“Bullshit”! O tempo passou... As mesmas pessoas que compartilhavam suas ideias e aceitavam suas opiniões não querem mais ouvi-la.
Quando se indagou sobre o que havia feito de errado, “você falou!” ecoava em sua mente.
Desde então, voltou a só escrever.

01/04/2016