quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Que caiam as máscaras!

Que caiam as máscaras!

(Paula Campos)

Ouvimos dizer que a vida é feita de escolhas. Sim. Mas temos que ter em mente que as circunstâncias que nos levam a algumas escolhas podem não ter sido escolhidas por nós. Quantas vezes nos encontramos numa enrascada, numa encruzilhada, numa “sinuca de bico”! Quantas coisas nós queríamos não precisar escolher?! Desculpem-me se falo só por mim, mas há várias situações como essas que não foram criadas por causa de nossos atos passados. Elas simplesmente aparecem e pronto: direita ou esquerda; isso ou aquilo; para cima ou para baixo...?
Não é diferente quando o assunto é amor. Está certo que cada um escolhe seu marido ou sua esposa, pois a escolha de se casar e de com quem se casar é pessoal e intransferível. Mas e o gostar, o amar? Você aí, prezado leitor, alguma vez já escolheu gostar de alguém? Eu, não. Você já teve a opção de amar ou não alguém? Eu, não. Pois gostar e amar são sentimentos e, como tais, simplesmente acontecem; sem que percebamos, estamos gostando de alguém e queremos estar perto dessa pessoa o tempo todo.  Amar não é opcional.
Então, aparece outra indagação: e a tal opção sexual? Será mesmo que um homem opta por ter atração por uma mulher, uma garota opta por amar um menino? A sociedade diz que sim ao usar o termo “opção” para designar esses encontros. Eu pergunto a você de novo: Já optou por gostar de alguém? Você já fez uma lista e foi colocando “sim” e “não” na frente dos nomes dos avaliados? “Deste eu vou gostar; deste aqui, não.”. Eu, não! Se você concorda que não escolhemos quem amamos, deve concordar, então, que opção sexual não existe.
Nos últimos anos, venho conversando com pessoas que têm uma visão bem clara (ou mesmo esclarecida) sobre esse assunto. Muitas me disseram não haver problema na existência de casais homossexuais. Algumas me disseram que pessoas gostam de pessoas, pouco importando se são homens ou mulheres. Pessoas gostam de pessoas. Essa frase fica martelando até hoje na minha cabeça e traduz verdade. Quem dera todos pensassem assim! Estaríamos numa sociedade mais respeitosa, menos violenta, menos preconceituosa.
Eu, Paula, passei minha infância me apaixonando por meninos; minha adolescência apaixonada por meninos; parte da vida adulta amando um homem. Eu, Paula, namoro uma mulher e sou apaixonada por ela. Não escolhi gostar dela. Simplesmente aconteceu. E arrisco dizer que nunca me senti tão bem no quesito sexualidade. Não me encaixo em rótulos (mais um problema da sociedade); não sou hétero, homo ou bi. Sou apenas uma mulher apaixonada por outra mulher. Hoje sou mais experiente, mais feliz, mais radiante, mais valorizada, mais feminina! Menos preconceituosa.
Por curiosidade ou esperança, certa vez fui perguntada se eu “curtia” mulher. Achei tão engraçado! Minha resposta foi “Eu ‘curto’ pessoas. Não acredito nisso de escolha entre homens e mulheres. Você alguma vez já escolheu uma pessoa para gostar? Duvido. A gente simplesmente gosta. Mais de uma pessoa do que das outras, mas está longe de ser uma escolha. Sendo assim, não posso dizer que ‘curto mulher’. Odeio várias. Muito menos homem, acho um monte deles ridículo.” Continuo com a mesma opinião. “Curto” algumas pessoas; outras, não. 
Convivo com várias pessoas preconceituosas que, enquanto trabalham, propagam aos jovens que preconceito é errado, que devemos respeitar as pessoas, porém, quando estão no horário de folga, fazem piadas, caretas e julgam todos, incluindo os próprios jovens. A sociedade é hipócrita, cria rótulos, propaga-os e faz com que acreditemos neles. Olhemos para nós mesmos e pensemos nas coisas que nos são “impostas”. Se há uma escolha que podemos fazer é a de seguir o que os outros falam ou seguir o que intimamente pensamos. 
Chega de máscaras!

10/02/2016