terça-feira, 25 de setembro de 2012

Do outro lado da rua


Do outro lado da rua

(Paula Campos Soares)

                Toda quinta-feira, eu trabalho em três turnos. Para trabalhar no segundo turno, tenho de pegar uma van, disponibilizada pela prefeitura para os professores que trabalham na zona rural. Portanto, quando saio da escola na qual trabalho pela manhã, caminho até um posto de gasolina, onde fico esperando tal transporte chegar.
                A quinta-feira costuma ser o pior dia da semana, contudo sempre vejo uma cena que faz meu dia valer a pena. Que mostra que ainda existe esperança por um ser humano melhor. E é ótimo saber que há chances de termos um futuro em que as pessoas respeitem o próximo, seja ele uma pessoa ou um animal.
                Isso mesmo! Um animal! Cansei de ouvir pessoas falando “eu amo cachorro”. Amam nada! Se todas as pessoas que falassem isso realmente sentissem isso, não haveria tantos cães abandonados pelas ruas. Nunca gostei muito de cachorro, sempre preferi gato. As pessoas são diferentes e têm preferências diversas, mas o fato de não gostar da companhia de determinado animal não é motivo para maltratá-lo. Infelizmente, não é o que vemos por aí. A maioria das pessoas que não gostam de gatos dão veneno para matá-los; as que não gostam de cachorros, simplesmente os deixam abandonados.
                A cena a que me refiro tem como personagens um cachorro e uma senhora. Enquanto espero a van, uma senhora, que deve morar ali por perto, atravessa a rua vizinha, num dos piores horários do trânsito barbacenense (o qual já é, naturalmente, um caos), com um pouco de ração e um pouco de água. Do outro lado da rua, um cachorro a está esperando, ora acordado, ora dormindo, mas sempre lá, em frente à mesma loja ou ao mesmo ponto de ônibus. Ela põe a ração, espera calmamente que ele faça sua refeição, guarda o que ele não quis comer, põe água e, só depois de ver que o cão está alimentado e hidratado, ela volta para sua casa, com a missão cumprida. E esse ritual se repete toda quinta-feira; provavelmente, todos os dias, quiçá mais de uma vez por dia.
Muita gente pode pensar que, se ela gostasse mesmo de cachorro, ela não o deixaria ali, mas sim o levaria para casa. Porém, ela pode ter o mesmo problema que eu tenho: falta de espaço. Ou então tem um marido que não gosta de bicho, ou um filho que tem alergia a pelos. Não devemos julgá-la por não levá-lo pra casa; devemos agradecê-la pelo bom coração de cuidar do pobre coitado. Cachorro não é como pessoa, que pode pedir ajuda ou correr atrás de um trabalho, ele fica ali, contando com a ajuda alheia para sobreviver, depois de ter sido abandonado por alguém que só pensa em si próprio.
Parabéns a ela! Se cada pessoa fosse cativada por ações como essa, um dia cães (e outros animais) deixariam de ser abandonados. Continuo torcendo.

25/09/2012

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Passaporte


Passaporte
(Paula Campos Soares)

Semana de provas na escola, horários que antecedem o momento de aplicação da avaliação de Geografia, alunos estudando (ou fingindo) e eu aqui, à toa, lendo, passando o tempo, já que minha prova já foi aplicada e corrigida. Isso não vem ao caso. Isso, na verdade, nem é completamente verdadeiro quando se leem as crônicas de Martha Medeiros. Pelo menos, para mim, suas crônicas não só passam o tempo, como me fazem voltar nele, refletir sobre o meu dia a dia, porque ela tem o dom de escrever “sobre mim”. Ah, vocês entenderam! Leio um texto dela e penso em escrever uma mensagem para um amigo; leio outro, e aqui estou, escrevendo um texto meu.
Acabei de ler uma crônica intitulada “Atravessando a fronteira do oi” e, automaticamente, identifiquei-me com o texto. Nesse, ela conta que, enquanto estava fora do país, conheceu uma mulher que ela sempre cumprimentava com um “oi”, quando se viam numa academia da cidade onde moram. Quais são as chances de você conhecer alguém, que mora na mesma cidade em que você, em outro país? Como Martha diz, o passaporte nos libera não só para a entrada em outro país, como também para entrar num outro estilo de vida ou, simplesmente, numa vida diferente: a de outra pessoa.
No meu caso, o passaporte me permitiu entrar na vida de várias pessoas através de uma só. E, por incrível que pareça, atravessamos a fronteira de simples “ois” trocados no curso de idiomas em que eu trabalhava e ela estudava para nos conhecer em NYC. Ótimo cenário, não? Antes eram “ois”, hoje, trocamos mensagens, fotos, telefonemas, confidências, choros, risadas, abraços, livros... Há mais ou menos um ano, consegui o visto que me permitiu ultrapassar, assim como Martha, a fronteira do oi.
Uma crônica escrita no dia do meu aniversário me inspirou a escrever este texto. Coincidência ou não, se hoje leio algum livro de Martha Medeiros, é porque eu aprendi com a guria do “oi”.

24/09/2012