segunda-feira, 11 de julho de 2016

A crise do esperar muito


A crise do esperar muito

(Paula Campos)

Quem me conhece sabe que eu detesto esperar. Na verdade, pouca gente sabe. Acho que quase ninguém realmente me conhece. Esperar por alguém é um teste enorme para minha paciência. Horário é horário, brasileiros! Não digo que me sinto britânica porque nem me considero pontual: eu chego antes! Não sei se o atraso é característica intrínseca de quase todos os brasileiros, mas, com certeza, dos meus amigos é. Quando eu era mais nova, havia combinado de caminhar com um dos meus melhores amigos. Esperava... Esperava... Esperava! Se bobear, por quase uma hora! Gente! Se fosse uma pessoa sem importância pra mim, já era. Ainda bem que era (e é) importante. E quando vou pegar carona com alguém? Mais um teste! Mas eu que quero carona, né... Só que quando sou eu que vou dar carona e a pessoa atrasa... Ah!!! Argh!!! Gente, você pediu carona, a pessoa falou o horário... Chegue na hora! Que coisa! Odeio atrasos! Porém, não é sobre isso que quero falar. Isso nem é uma crise.
Este texto é inspirado no livro “Tá todo mundo mal”, da Jout Jout. Compartilho de várias crises que ela relata e ainda nem terminei o livro para saber se ela compartilha desta minha (dei uma pausa para ler uma crise dela – fui interrompida por um chato – impaciência: mais uma crise minha! Deu pra notar? – e ela falava sobre expectativas... Tchãnã!!). Venho tendo crise de expectativa, a famosa crise do esperar muito de alguém, de uma situação, de uma instituição. Quem me conhece sabe que eu crio expectativas e que, obviamente, quando não são correspondidas, despertam em mim as mais diversas sensações, desde tristeza até irritação extrema (olha a impaciência aí), ou seja, nada bom.
Eu tenho consciência de que esperar demais é culpa minha (mesmo se não tivesse, sempre jogam isso na minha cara). Eu só acho que não custa nada a pessoa corresponder, de vez em quando, às minhas expectativas. Mas ainda não é exatamente sobre isso que quero falar.
Eu sou professora e gosto do que eu faço. Por isso, eu sonhava em mudar a Educação – porque o mundo, seria demais. Algumas mudanças eu consegui no início: despertei a atenção de muitos alunos para as possibilidades, para o mundo, para a vida! Fui feliz por muito tempo! Só que alguma coisa, em algum momento, mudou e, embora eu continue gostando da sala de aula, não sou mais feliz. Me peguei pensando outro dia (na verdade, em vários dias) em qual seria o problema. E cheguei a uma conclusão: são tantos! Os problemas da Educação começam no topo e vão até as casas, seguindo o esquema:

GOVERNOS -  ESCOLAS  (DIREÇÃO -  SUPERVISÃO/ORIENTAÇÃO - PROFESSORES 
DESMOTIVADOS - ALUNOS DESINTERESSADOS) - FAMÍLIA AUSENTE

Na minha realidade, além de governos cheios de propagandas enganosas e secretarias lotadas de pessoas que não conhecem a realidade de uma escola, o que mais me incomoda é o desinteresse dos alunos, que, muitas vezes, não têm uma perspectiva de futuro e veem a escola apenas como obrigação (está aí outro grande problema: “Educação para todos” – escola deveria ser direito apenas, não dever); e a ausência de cobrança e participação por parte dos pais também influencia no meu desânimo. A falta de perspectiva dos alunos de Ensino Médio é alta, já que muitos são imediatistas e querem ganhar dinheiro rápido, trabalhando no comércio, ou mesmo fazendo, concomitantemente, cursos técnicos para terem rapidamente uma profissão. Ambos os caminhos atrapalham sua trajetória escolar.
O que dizer, então, do Ensino Fundamental? A falta de perspectiva é ainda maior! Os alunos entendem, em sua maioria, que a ida à escola é pura obrigação e a indisciplina rola solta. Estudos dizem que em 80% do tempo, os professores têm de cuidar da questão disciplinar, sobrando apenas 20% para o conteúdo. Como ser feliz assim? Eu não consigo.
Fazendo toda essa análise, uma lâmpada se acendeu na minha mente. O problema continua sendo eu, na verdade. Eu espero demais dos alunos e de seus pais, eu espero mais dos responsáveis pela Educação. Mais um exemplo da crise do esperar muito.
Será que realmente eu que sou errada por esperar que as coisas devessem, ou não, ser assim? Será que o mundo está errado, mas eu estou ainda mais por esperar que ele mude? Ou será que está tudo errado, todo mundo acha errado, mas poucos falam?
É... preciso de terapia.

06 e 07/07/2016