Do outro lado da rua
(Paula Campos Soares)
Toda quinta-feira, eu trabalho em
três turnos. Para trabalhar no segundo turno, tenho de pegar uma van, disponibilizada
pela prefeitura para os professores que trabalham na zona rural. Portanto,
quando saio da escola na qual trabalho pela manhã, caminho até um posto de
gasolina, onde fico esperando tal transporte chegar.
A quinta-feira costuma ser o
pior dia da semana, contudo sempre vejo uma cena que faz meu dia valer a pena.
Que mostra que ainda existe esperança por um ser humano melhor. E é ótimo saber
que há chances de termos um futuro em que as pessoas respeitem o próximo, seja
ele uma pessoa ou um animal.
Isso mesmo! Um animal! Cansei de
ouvir pessoas falando “eu amo cachorro”. Amam nada! Se todas as pessoas que falassem
isso realmente sentissem isso, não haveria tantos cães abandonados pelas ruas. Nunca
gostei muito de cachorro, sempre preferi gato. As pessoas são diferentes e têm
preferências diversas, mas o fato de não gostar da companhia de determinado
animal não é motivo para maltratá-lo. Infelizmente, não é o que vemos por aí. A
maioria das pessoas que não gostam de gatos dão veneno para matá-los; as que
não gostam de cachorros, simplesmente os deixam abandonados.
A cena a que me refiro tem como
personagens um cachorro e uma senhora. Enquanto espero a van, uma senhora, que
deve morar ali por perto, atravessa a rua vizinha, num dos piores horários do
trânsito barbacenense (o qual já é, naturalmente, um caos), com um pouco de
ração e um pouco de água. Do outro lado da rua, um cachorro a está esperando,
ora acordado, ora dormindo, mas sempre lá, em frente à mesma loja ou ao mesmo
ponto de ônibus. Ela põe a ração, espera calmamente que ele faça sua refeição,
guarda o que ele não quis comer, põe água e, só depois de ver que o cão está
alimentado e hidratado, ela volta para sua casa, com a missão cumprida. E esse
ritual se repete toda quinta-feira; provavelmente, todos os dias, quiçá mais de
uma vez por dia.
Muita
gente pode pensar que, se ela gostasse mesmo de cachorro, ela não o deixaria
ali, mas sim o levaria para casa. Porém, ela pode ter o mesmo problema que eu
tenho: falta de espaço. Ou então tem um marido que não gosta de bicho, ou um
filho que tem alergia a pelos. Não devemos julgá-la por não levá-lo pra casa;
devemos agradecê-la pelo bom coração de cuidar do pobre coitado. Cachorro não é
como pessoa, que pode pedir ajuda ou correr atrás de um trabalho, ele fica ali,
contando com a ajuda alheia para sobreviver, depois de ter sido abandonado por
alguém que só pensa em si próprio.
Parabéns
a ela! Se cada pessoa fosse cativada por ações como essa, um dia cães (e outros
animais) deixariam de ser abandonados. Continuo torcendo.
25/09/2012