Eu protesto!
(Paula Campos Soares)
Sempre me
perguntei por que os brasileiros viam tantos absurdos acontecendo no país e não
faziam nada. Na verdade, sempre fizeram, sempre reclamaram de tudo o que era
ruim (não posso ser injusta); porém tal reclamação sempre se deu enquanto
papeavam em grupo, na fila do banco, na hora do café, em uma mesa de bar...
Amigos reclamavam uns com os outros, desconhecidos faziam o mesmo e quase
todos, então, iam para casa, ligavam a TV e passavam o resto do dia vendo sua
novela, seu futebol... E, assim, o povo ia engolindo os absurdos.
Há pouco mais
de uma semana, os brasileiros acordaram para reclamar, em público. Vamos dar
nomes aos absurdos: aumento da passagem do ônibus; aumento dos salários de
políticos, enquanto não havia aumento de investimento na saúde, na educação, no
transporte; o gasto excessivo na construção de estádios para a
Copa do Mundo da FIFA; até mesmo o controle midiático sobre a população. Não
conseguiria me lembrar de todas as reclamações que existem por aí, contudo é
realmente muito boa a sensação de ver as pessoas, principalmente as jovens,
insatisfeitas com nossos governantes e a política brasileira em geral.
No entanto,
sempre há o exagero. Protestos foram feitos em todo o país, de cidades grandes
e importantes até cidades pequenas e inexpressivas, de norte a sul. Até aí,
justo. Só que essas manifestações, que levaram milhares de pessoas às ruas de
cada cidade, começaram a acontecer todos os dias. Todos os dias! “Peraí”!
Protestos devem mesmo acontecer, passeatas com multidões chamam a atenção de
todos, da mídia nacional, da internacional e, obviamente, dos governantes. Todavia,
quem protesta todos os dias perde credibilidade, o protesto perde lógica, o
movimento perde força e as reclamações começam a ser vistas como birra de
criança. Como irresponsabilidade de adolescente, a manifestação passa a ser
chata aos olhos de quem a vê e, portanto, perde grande parte do objetivo.
Outra coisa
que me preocupa é pensar em até onde as pessoas na passeata estão sendo
honestas com elas mesmas e, claro, com o restante da sociedade. Sinto que
grande parte dos protestantes está lá só para aparecer, por achar legal “ser
rebelde”, chamar atenção (que é o que muitos adolescentes querem sempre).
Discutindo o assunto com uma colega, ouvi dela que muitos que agem assim são,
ao mesmo tempo, automaticamente, tomados por uma força interna, uma sensação boa,
um sentimento nobre de estarem fazendo o bem. Tomara! Espero que essa sensação
os contagie para sempre e faça que esta luta por ideias dure gerações.
Ressalto meu
orgulho de ver que os brasileiros acordaram (espero que para sempre) para
questões tão nocivas ao nosso dia a dia. Fico feliz em vê-los pacificamente (já
que apenas pequenos grupos de desajustados estejam vandalizando) lutando por
uma causa, na verdade, por várias causas. Mas espero, sinceramente, que aqueles
que adotam o “jeitinho brasileiro” deixem de ser hipócritas e notem que essa é
a primeira corrupção, a primeira desonestidade de nosso povo e que,
infelizmente, ela é tida como parte da nossa cultura. Enquanto a desonestidade
estiver no meio do povo, como aspecto cultural, não teremos suporte moral para
lutar contra a mesma (em caráter maior) dos nossos governantes.
24/06/2013
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