A vida é dura
(Paula Campos)
Ela vê o adversário desprevenido
Calça sua luvas gordas e vermelhas
Por trás mesmo, porque é desleal
Ela desfere o golpe
O adversário cai,
Fica desacordado por uns instantes
Curtos, porém dolorosos
Abre os olhos
O adversário se levanta
Zonzo, sangrando
E é golpeado novamente
Como disse, ela é desleal
A pancada é forte
E ele fica desacordado por uns instantes
Longos. Dolorosos. Inacreditáveis.
E não abre os olhos desta vez.
O tempo passa
Ele parece estar em coma
Quando finalmente abre os olhos,
Não enxerga saída. Nada.
Enquanto isso, ela se dá por vitoriosa
Baixa a retaguarda
Sabe de sua força
E se mostra, se vangloria
O adversário volta a ver
Se ergue
Nota a distração da outra
E vai.
Dá um grito
Para chamar a atenção
Pois ele não é desleal como ela
E dá-lhe um soco no estômago
Mas ela não é mole
Trôpega, só que atenta
Dá uma rasteira em seu adversário
Que, de novo, cai
Ele bate a cabeça no chão
Mas mesmo desacreditado pelos que assistem,
Ele levanta, respira fundo
Analisa a situação
Dá a volta pelo lado
Achando que, assim
Daria a volta por cima
Mas leva um soco na cara
Ela é implacável
Mostra a ele que não tem saída
Que as coisas vão ser do jeito dela
E que, a cada vez que ele teimar em se levantar,
Ela o fará cair novamente
Ele é teimoso
Mostra que não desiste fácil
Que sente que as coisas vão entrar nos eixos
E que, a cada vez que for derrubado,
Levantará mais forte e determinado.
Os espectadores estão divididos
Muitos torcem para o adversário ser trucidado
Sem dó
Muitos querem que ele desista e se poupe
Outros tantos, mesmo sabendo que o adversário será
derrotado,
Desejam que ele lute.
Ninguém acredita nele
Todos sabem que ela é cruel
Ninguém acredita nele
Apenas ele acha ser forte o suficiente para vencer
Será que crer basta?
21/04/2018