Sem parar
(Paula Campos Soares)
Ele pega seus livros, seus
cadernos e até uma manta, em pleno verão. Vai até um local de estudo inusitado.
O caminho é longo. Ele aproveita para pensar na vida: o que quer, o que deve, o
que pode fazer. Tende a fazer o que quer, mesmo que não deva. Olha pela janela,
vê o trânsito, vê o mar, vê as luzes dos prédios, dos carros, dos aviões... Vê
as luzes dos amigos, da família... Tão distantes! Balança a cabeça, apaga os
pensamentos e volta novamente seus olhos para o livro. Enquanto lê as palavras
dos especialistas, lamenta serem especialistas no assunto errado e começa a
reescrever seus pensamentos apagados há menos de um minuto.
Chega ao local no qual decidiu
estudar. Quem sabe lá ele aprende mais? Recosta num desses bancos de espera e
começa a ler de novo. É interrompido pelos pensamentos, pelo faxineiro, por uma
família cuja criança faz birra porque não quer viajar, pelo sono, pelo medo,
pela espera, pela vontade, pela saudade... Mas não desiste! Volta a estudar.
Seu futuro é mais importante, mas ele quer viver o instante. Olha para a tela
de horários, acompanha embarques, desembarques, atrasos, cancelamentos... Ele
queria cancelar seus compromissos, atrasar um pouco sua vida, mas viver,
embarcar para viagens inesquecíveis, conhecer pessoas indeléveis e desembarcar
só quando se cansasse de ser feliz.
Um alarme soa, mais um
desembarque é feito. O avião dos seus pensamentos pousa. Hora de parar de
viajar. Um alívio imediato lhe cobre o semblante. O estudo sobre a vida é mais
válido que a prova. De vez em quando, um instante vale mais que o amanhã.
29/10/2013