terça-feira, 29 de outubro de 2013

Sem parar

Sem parar

(Paula Campos Soares)

Ele pega seus livros, seus cadernos e até uma manta, em pleno verão. Vai até um local de estudo inusitado. O caminho é longo. Ele aproveita para pensar na vida: o que quer, o que deve, o que pode fazer. Tende a fazer o que quer, mesmo que não deva. Olha pela janela, vê o trânsito, vê o mar, vê as luzes dos prédios, dos carros, dos aviões... Vê as luzes dos amigos, da família... Tão distantes! Balança a cabeça, apaga os pensamentos e volta novamente seus olhos para o livro. Enquanto lê as palavras dos especialistas, lamenta serem especialistas no assunto errado e começa a reescrever seus pensamentos apagados há menos de um minuto.
Chega ao local no qual decidiu estudar. Quem sabe lá ele aprende mais? Recosta num desses bancos de espera e começa a ler de novo. É interrompido pelos pensamentos, pelo faxineiro, por uma família cuja criança faz birra porque não quer viajar, pelo sono, pelo medo, pela espera, pela vontade, pela saudade... Mas não desiste! Volta a estudar. Seu futuro é mais importante, mas ele quer viver o instante. Olha para a tela de horários, acompanha embarques, desembarques, atrasos, cancelamentos... Ele queria cancelar seus compromissos, atrasar um pouco sua vida, mas viver, embarcar para viagens inesquecíveis, conhecer pessoas indeléveis e desembarcar só quando se cansasse de ser feliz.
Um alarme soa, mais um desembarque é feito. O avião dos seus pensamentos pousa. Hora de parar de viajar. Um alívio imediato lhe cobre o semblante. O estudo sobre a vida é mais válido que a prova. De vez em quando, um instante vale mais que o amanhã.



29/10/2013

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