domingo, 11 de abril de 2010

Os corruptos


Os corruptos
(Paula Campos Soares)

“Não basta ser sincero, ter caráter, ser honesto. Gotta work[1].
Será que hoje em dia ser sincero é crime? Por que ter caráter é tão diferente? E por que ser honesto é tão difícil?
Vivemos em uma sociedade que xinga tanto nossos políticos! Com razão, claro! Mas será que não devemos xingar nós mesmos? Reclamamos tanto de corrupção, contudo os primeiros a se corromperem somos nós mesmos. Nem venha me falar que isso é um absurdo, porque não é! Deixe-me explicar...
O que você acha que é corrupção? Você vai logo pensar que corrupção é aquilo que todos os políticos fazem por aí, ou seja, é roubar, aceitar suborno e subornar, etc. Pois bem, está certo, mas digo mais: corrupção é o ato de corromper-se. E o que é corromper-se? Um dicionário que eu tenho aqui em casa explica “corromper” como “apodrecer, estragar, perverter, viciar, subornar”. Você se encaixa em alguma dessas acepções? Eu acrescento uma acepção a essa lista: “jeitinho brasileiro”. Agora sim você vai falar que é um absurdo! E eu vou falar de novo que não é!
O meu meio de trabalho é a educação e uma das acepções desta palavra no meu dicionário é “ensinar bons modos”. Educar não é só ensinar bons modos, ou mesmo ensinar Português, Inglês ou qualquer outra disciplina da escola; educar é ensinar para a vida. O mundo vai cobrar tanto dos meus alunos que quero ensinar-lhes não só Português ou Inglês, quero ensinar-lhes sobre a vida. Quem sou eu para ensinar alguém sobre a vida, né? A cada dia que passa, vejo o quão inexperiente sou. Entretanto, sei que tenho alguma experiência a mais que meus alunos: sei de muita coisa que a vida nos cobra e eles, não.
Então, a escola é para educar, logo deve mostrar que não se pode chegar atrasado nem sair cedo. Alunos e professores devem cumprir com suas obrigações. Todos têm de chegar no horário e não devem sair cedo. Mas não é assim que funciona, infelizmente, não só com alunos, mas também com professores.
Os professores, educadores, que bonito! Enchem a boca para gritar por um salário digno, que bonito! Mas não fazem um trabalho digno, que feio! Chegam atrasados, saem cedo e, se for dia de jogo da seleção brasileira, pedem até para “liberarem os alunos”. Se eu sou contra, eles perguntam “cadê seu patriotismo?”. E eu lhes respondo agora: ser patriota não é torcer por um bando de ignorantes que não deu valor aos estudos e que ficou rico só porque futebol deixou de ser esporte para virar comércio. Ser patriota é fazer o que você jurou no dia de sua formatura. Não jurei não trabalhar para ver jogo de futebol. Jurei ensinar bons modos e tenho que fazer isso para não me tornar corrupta!
Imagina meus alunos no futuro, chegando atrasados no trabalho, saindo cedo, pedindo para ver jogo... Seriam demitidos e teriam toda a razão de xingar a escola deles por não ter-lhes ensinado que isso era errado. Eu faço parte da história deles e prefiro ser lembrada como a chata que não os deixava chegarem atrasados nem saírem cedo, mas que ensinou que isso é o certo.
Não quero me corromper e nem estragar meus alunos. Escrevo este texto como desabafo. Cansei de ouvir pelos corredores que sou estressada. Sei que não foi aluno que criou este boato e isso sim me espanta mais. Por que sou estressada? Só porque eu quero as coisas nos seus lugares? Só porque sou rígida e quero que meus alunos se formem sabendo alguma coisa? Prefiro que eles saiam sem gostar de mim, mas saiam preparados para o mundo. A minha função é educar e não corromper.
“Não basta ser sincero, ter caráter, ser honesto. Gotta work”. Mas será que trabalhar ainda tem valor?

[1] Trecho da música Spoc, da banda Pato Fu

04/07/2009

Nenhum comentário: